Molina aparece andando pela sala, falando com alguém ao telefone.  “Eu vou estrangular o Lui na frente dela. Foda-se se eu for para cadeia”

Entre os vídeos feitos com o celular, a ex-companheira do perito forense Ricardo Molina, de 71 anos, Janinne Jasem, 28, registrou o momento em que, descontrolado, o renomeado especialista em fonética forense ameaça estrangular “Lui”, um cão da raça spitz alemão que pertencia ao casal.

Molina é alvo de investigação da na Polícia Civil de São Paulo por suspeita de violência doméstica, em março deste ano. O casal está separado desde outubro de 2022. Na imagem, Molina aparece andando pela sala, falando com alguém ao telefone. “Eu vou estrangular o Lui na frente dela. Foda-se, eu vou pra cadeia. Lui, onde está você?’, grita o perito, enquanto tenta pegar o cachorro.

Do lado de fora, Janinne esboça reação para tentar salvar o animal e Molina reage: “Você quer brincar, sua vagabunda?”, dispara o perito antes de o vídeo ser cortado abruptamente. As imagens foram feitas em 11 de março, logo após uma discussão em um restaurante. Eles estavam separados desde outubro do ano passado, mas resolveram se encontrar para tentar a reconciliação. Depois de discutirem, Molina se descontrolou, proferiu uma série de ameaças e chegou a urinar em uma Bíblia da ex-mulher.

Veja momento em que perito Ricardo Molina ameaça estrangular o cachorro da ex:

Urina na Bíblia

Em outro momento, Molina aparece transtornado, com as mãos e os braços sujos com o próprio sangue e urinando em uma Bíblia aberta no chão. As imagens ainda mostram momentos em que a mulher tenta recuperar pertences pessoais que estavam dentro da residência que o casal dividia, em Campinas. Descontrolado, o perito quebra os vidros de uma porta com socos e chutes.

Aos gritos de “morre, vagabunda” e “vou mijar na sua cova”, Molina acabou filmado. As ameaças e agressões, segundo a vítima, começaram ainda em 2021 e se agravaram com o passar dos anos.

Veja imagens do perito urinando na Bíblia da ex-companheira:

Medida protetiva

Em seu depoimento à Polícia Civil do Estado de São Paulo (PCSP), a mulher relatou que Molina tomou a bolsa e o celular dela, mas que devolveu, pois os funcionários do estabelecimento presenciaram a confusão.

Ambos deixaram o local juntos. Molina seguiu com as ameaças e ofensas até chegar à residência do casal. Lá, houve a discussão mais acalorada e o perito passou a urinar na Bíblia que pertence à ex-mulher.

“Isso vai me dar um grande prazer. A Bíblia da mulher: aqui ensina ela a chupar um pau, mas ela não aprendeu. Mas eu vou cagar também, mijar é pouco”, diz Molina no vídeo.

Abalada, Janinne procurou a delegacia para registrar ocorrência e requerer medidas protetivas, que foram deferidas pela Justiça. Um inquérito foi aberto para apurar o caso de violência doméstica no âmbito da Lei Maria da Penha.

O outro lado 

Procurado pela coluna, o perito atendeu a ligação claramente exaltado, mas apresentou sua versão sobre as agressões. De acordo com Molina, sua ex-esposa “é mentirosa, sofre de transtorno de borderline, mente o tempo todo e é aproveitadora”.

“Ela tem um amante desde 2020. E tem mais: o que ela tem é narrativa para cativar feminista. Registrei uma queixa-crime contra ela e ela será investigada”, afirmou o perito.

A vítima foi ouvida nesta semana em depoimento à PCSP, e Molina deverá ser intimado para dar sua versão sobre os fatos nos próximos dias.

Associação se manifesta

A Associação Nacional dos Peritos Criminais Federais (APCF) emitiu nota afirmando que Ricardo Molina não é perito criminal. Perícia criminal, segundo a APCF, é atividade típica de Estado, regida pela Lei nº 12.030/09, sendo os peritos e peritas criminais, em nível federal ou estadual, servidores públicos concursados submetidos aos impedimentos e rigor científico, puníveis pela legislação vigente, dotados de isenção e imparcialidade. Leia a nota abaixo:

“Profissionais privados, como é o caso de Ricardo Molina, não se submetem aos mesmos rigores dessa legislação, estando livres de qualquer imputabilidade em caso de eventuais equívocos ou quando agem sob um claro viés de confirmação. Em 2018, inclusive, a APCF enviou a Ricardo Molina uma notificação extrajudicial para que ele parasse de se apresentar como perito criminal, uma vez que a designação correta da atividade dele é a de “assistente técnico” especializado em fonética, que atua contratado pelas partes do processo para anuir e tentar provar as suas teses”.

Metrópoles